Graziela Caproni

Por Graziela Caproni

Infelizmente, a comida se tornou a manipuladora do peso e da forma corporal. Isso quer dizer que quando se fala em comida, as pessoas pensam se ela engorda ou emagrece, faz ganhar gordura ou músculos, se é “comida de dieta” ou “gordice”. Esse jeito de pensar a alimentação é simplesmente reducionista. É como olhar para um quadro bonito e se fixar apenas na sua moldura.

Ouço muita gente dizer “queria tanto comer normalmente ou ser saudável”. Mas afinal, o que é “comer normalmente” pra você? Se faça essa pergunta! Para mim digo que comer normalmente é ser capaz de comer quando você está com fome física, estômago “roncando” e continuar comendo até você ficar satisfeito. É ser capaz de escolher os alimentos que você gosta e comê-los até aproveitá-los suficientemente, e não simplesmente parar porque você acha que deveria.

Comer normalmente é conseguir pausar e pensar um pouco para selecionar alimentos mais nutritivos para o seu corpo, mas sem ser tão preocupado e restritivo a ponto de não comer os alimentos mais prazerosos para você. É comer algo que não lhe cai bem por ter vontade, para sentir as reações indesejadas e pensar melhor numa próxima vez.

Comer normalmente é, na maioria das vezes, fazer três, quatro ou cinco refeições por dia, ou deixar a sua fome guiar quantas vezes você vai comer. É voltar a ouvir esses sinais naturais que estão “abafados” por hábitos ruins em longo prazo.

alimentação

É também deixar de comer algum pedaço de bolo porque você pode comer mais amanhã ou então comer mais agora. Comer normalmente é comer em excesso às vezes e depois se sentir estufado e desconfortável. Também é comer pouco, desejando ter comido mais. Comer normalmente é confiar que seu corpo conseguirá corrigir os ‘erros’ da sua alimentação, pois você cuida dele para que fique cada dia mais equilibrado podendo trabalhar com eficiência. Comer normalmente requer um pouco do seu tempo e atenção, mas também ocupa o lugar de apenas uma área importante, entre tantas, de sua vida.
Felizmente, comer normalmente pode fazer muito mais pelas pessoas do que alterar o peso e forma física: dá energia e disposição; melhora o humor e concentração (tente prestar atenção em algo estando com fome!!); protege contra doenças; quem sabe fará você envelhecer melhor, não só mais bonita, mas com mais qualidade de vida; o tornará mais saudável – a saúde é um recurso para a vida diária, e não um objetivo de vida. Sem saúde ficamos limitados a realizar muitas coisas, concorda? Aqui um parêntese: mesmo a doença tem seus benefícios (nutri tá doida?!), já que é um mecanismo existente para alertar e não para castigar. Uma conversa do corpo pra te dizer que algo não vai bem. Enfim, isso fica para outro papo.

Aproveitar melhor o alimento trata-se de ficar mais relaxado, no sentido de “sem neuras” e não no sentido de “descuido”, perante a comida e aí as coisas começam a equilibrar-se. Pense como um “relacionamento com a comida”, pois é exatamente isso! Se toda vez que se encontrar com ela, você ficar muito ansioso, por exemplo, as chances desse relacionamento ficar tranquilo, dar certo e fluir são muito baixas. Só que se esse relacionamento não der certo, o grande ponto é que não podemos nos “divorciar”, pois a comida continuará na sua vida e vai estar enquanto estiver vivo.

Então, talvez a melhor maneira para viver em paz é melhorar esse relacionamento, vigiar zelar e cuidar sem tornar-se um “ciumento neurótico”. Comer sem culpa e aproveitar a comida, sentir seu sabor, degustar ao invés de engolir, perceber seu aroma, separar um tempinho para vocês. Tornar-me saudável não significa me tornar rádical e só comer maçã! Significa voltar a escutar os sinais naturais de fome e saciedade, por exemplo. Significa parar de acreditar na dieta milagrosa que vai resolver tudo: ela não existe! Significa compreender-se mais sem exigir nada, apenas estando mais alerta e consciente. Tornar o relacionamento consigo mesmo mais afetuoso.
Resumindo, o “comer normalmente” é flexível, sem ser desleixado. Ele varia em resposta às suas emoções, sua agenda, seus objetivos, sua fome e sua proximidade com a comida, com você e seus sentimentos.

Pense nisso! Até nosso próximo encontro.