Em algum momento da vida, provavelmente você já ouviu falar que a genética pode influenciar o desenvolvimento de algumas doenças. Mas, até que ponto essa premissa é verdadeira? As características genéticas são sim capazes de influenciar a saúde de uma pessoa, mas nem sempre esse é o fator determinante. A especialista em medicina geriátrica e consultora da OMS (Organização Mundial da Saúde), Karla Giacomin, declarou no XIV Fórum da Longevidade Bradesco Seguros, em São Paulo, que o peso da hereditariedade e da idade são superestimados. De acordo com ela, a predisposição genética representa entre 20% e 30% da saúde e a maior parcela é atribuída aos hábitos de vida do paciente: escolha dos alimentos, sedentarismo, tabagismo, qualidade do sono, entre outros fatores.

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E é no cenário do mundo pós-Covid-19, em que as pessoas buscam por imunidade e saúde, que a Medicina do Estilo de Vida é colocada em pauta. Mas, você sabe como funciona essa abordagem? Acompanhe.

MEV

A Medicina do Estilo de Vida é uma abordagem científica interdisciplinar, que prioriza o uso terapêutico do estilo de vida para prevenir e tratar doenças crônicas relacionadas ao estilo de vida, que estão cada vez mais prevalentes na sociedade. Essa abordagem surgiu na década de 80, mas ganhou força em 2007, nos Estados Unidos, quando um dos pioneiros, Edward Phillips, fundou o Instituto de Medicina do Estilo de Vida no Spaulding Rehabilitation Hospital e na Harvard Medical School para reduzir mortes e doenças relacionadas ao estilo de vida.

Cardiologista membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia com formação em Lifestyle Medicine pela Universidade de Harvard, Danielle Salaorni de Resende.

“A Medicina do Estilo de Vida é uma prática médica que visa combater doenças crônicas ou fazer uma remissão dessas doenças através da mudança de hábitos”, explica a cardiologista membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia com formação em Lifestyle Medicine pela Universidade de Harvard, Danielle Salaorni de Resende.

Pilares

Apoiada na mudança do estilo de vida, através da inserção de uma rotina mais saudável, que inclui uma dieta balanceada, exercícios físicos regulares, controle de estresse e evitar o uso do tabaco e drogas, a MEV tem como principal objetivo unir profissionais da saúde com um foco em comum: a saúde do paciente para além das doenças. “Os principais pilares da Medicina do Estilo de Vida são: alimentação, atividade física, controle e gerenciamento do estresse, qualidade do sono, cessação do tabagismo e diminuição de álcool e qualidade das relações interpessoais. Todos esses fatores trabalhados em conjunto, dentro das consultas médicas, favorecem que nós tenhamos um estilo de vida saudável em todos os âmbitos, tanto corpo, mente e espírito, para auxiliar na prevenção de doenças crônicas”, afirma a médica.

 

Doenças genéticas

As doenças hereditárias, aquelas que tem maior chance de serem passadas de pais para filhos, nem sempre estão atreladas a esse fator genético. “É possível que a pessoa tenha uma predisposição genética a uma determinada doença, porém, com um estilo de vida saudável, ela pode não desenvolver esta doença. Existe algo muito novo na medicina que se chama Epigenética, que é a influência do estilo de vida dentro da genética que faz com que alguns genes responsáveis pelo desenvolvimento da doença sejam adormecidos para que essas doenças não se desenvolvam”, complementa Danielle.

Prevenção

A OMS define saúde como “o bem-estar físico, mental e social, mais do que a mera ausência de doença” e, cada vez mais, a sociedade caminha para a compreensão de que ser saudável vai muito além de não estar doente.  Nesse sentido, a prevenção entra como prioridade. A cardiologista explica que é  possível prevenir diversos quadros através de um estilo de vida mais saudável, ao lado do acompanhamento médico e realização periódica de exames. “É possível preveni-las ou adia-las com um estilo de vida saudável. Não existe um fator para doença genética, o gene está em você desde o seu nascimento. Você vai desenvolver essa doença ou não dependendo dos fatores ambientais que incluem: a sociedade na qual você vive e o estilo de vida que você leva”, salienta.

Longevidade saudável

O aumento na expectativa média de vida tem aumentado já há umas décadas, graças a melhora nas condições de vida e dos avanços da medicina. Mas, Viver mais não é sinónimo de viver melhor, portanto as pessoas buscam mais do que tratamentos que apesar de eficazes, degradam imenso a qualidade de vida. Hoje, o desafio é conscientizar as pessoas de que elas são sim responsáveis por grande parte de sua saúde. “Nesse contexto de pandemia, veio ainda mais reforçar que não há outro modo de se promover saúde a não ser praticando bons hábitos. Então, uma boa alimentação, uma boa qualidade do sono, gerenciamento do estresse, ter um profissional capacitado para te orientar a fazer tudo isso de forma correta, faz com que você tenha uma boa saúde, uma boa imunidade e fique cada vez menos suscetível a desenvolver doenças”, finaliza a médica.