Por Gabriel Santana 

transição de carreira
              @g.moreiradesantana

Empatia talvez seja a mais importante habilidade de um coach, possivelmente o elemento a estruturar todo o processo de coaching, assim como requisito imprescindível a tantos outros profissionais. Mas, de imediato, cometemos um erro ao tentar abordar esse sentimento, presságio ou atributo: nós o pensamos enquanto habilidade, estrutura psíquica ou estado de espírito. O que seria, então, essa capacidade de compreender, ou possibilidade de se identificar ou, ainda, de se projetar em outrem? A resposta pode nos trazer indícios quanto ao mal-estar social generalizado,  que impregnam os relacionamentos, conectam e desconectam pessoas, ideias.

Lembra-nos a ideia de liquidez, tão logo nos referimos a ela, àquela proposta pelo polonês Zygmunt Bauman, tanto pela sua complexidade, quanto pela correspondência que paradoxalmente nos parece óbvia, ante a sociedade em que vivemos. Afinal, para o sociólogo, o líquido não é frágil, tampouco propõe relações conscientemente instáveis. Refere-se à fragmentação da emancipação intelectual, emocional e cultural do ser, à insuficiência dos projetos cotidianos, que se tornaram objetos de consumo ou mercadorias sem sentido; sentido para além da ideia de nexo, enquanto verdade sentida.

É nesse ponto que a questão da empatia líquida revela sua face mais caótica em tempos de carência de pertencimento, de previsibilidade ou certezas que permitem apenas o prazer, sem o desprazeroso freio que advém do temor da infelicidade. Seja essa forma de empatia aquela que se compreende no coaching como elo de compreensão, na literatura como o vínculo romântico entre duas partes desiguais que se identificam, ou na psicanálise enquanto – embora não consensualmente – perspectiva metapsicológica de compartilhar experiências e emoções que desperta sensações, projeções e defesas.

Não é uma definição fácil nem uma reflexão cotidiana, fazê-la ao observar o outro, no entanto, pode nos tornar mais que líderes respeitados e influentes, mais que profissionais competitivos e admirados, mais que parceiros desejados, pais valorizados ou executivos de sucesso, poderá nos transformar íntima, ideológica, emocional e intelectualmente, enquanto seres humanos.

A solidificação de princípios e valores é que nos fará mais tolerantes, sensíveis à causa do outro, engajados no desafio de nosso coachee, aluno ou familiar, atentos às demandas sociais e oportunidades de negócio que tenham algo além do retorno financeiro. Pode nos aproximar de nossa missão e, mesmo que ainda não nos dê a resposta de “o que fazemos aqui?”, poderá ao menos nos permitir viver essa oportunidade com um propósito que faça cada dia valer a pena.

O mal-estar da civilização pós-moderna, como já preconizava Freud, está intimamente relacionada ao sofrimento do inevitável, da incerteza do tempo e da forma com a qual se dará o declínio físico, à dissolução do mundo natural que nos cerca, assim como às relações com outro. Isso nos diz mais sobre as fantasias e o isolamento individual ou coletivo que prejudicam o desenvolvimento de uma vida plena, o próximo, a realização de “sonhos” enquanto projetos, a vinculação com a realidade que não apenas a própria e, por conseguinte, a criação de um legado que propague gozo e beleza para além de mera compensação. Pense nisso, de forma empática.