Por Mariana Arruda

Antes mesmo de ter um diploma de jornalista, Paula Mariane se aventurava em fotografar e levar às pessoas civis uma realidade pouco conhecida: a rotina militar. Idealizadora do projeto “Laços de Honra – O outro lado do Exército”, no qual documenta a trajetória do oficial combatente do Exército Brasileiro, a fotojornalista teve duas fotos selecionadas entre as 50 melhores na categoria Retrato do Sony World Photography Awards 2016, considerado um dos maiores prêmios de fotografia do mundo. Em 2018, ela representou o Brasil na Suíça em um curso promovido pela organização internacional Initiatives of Change sobre resolução de conflitos. Além disso, Paula cobriu por quatro meses a intervenção federal no estado do Rio de Janeiro. A redação da Campinas Cafe conversou com ela sobre o seu olhar fotográfico. Confira.

primeira mulher civil
Paula Mariane

Qual foi o seu primeiro contato com a fotografia?

Eu sempre gostei da ideia de você registrar o momento, de fotografar. Eu lembro que eu gostava dessa ideia de registrar, de eternizar uma coisa que desaparece com o tempo. Eu acho que isso nasceu comigo, mas eu fui adquirir aos 14 anos a minha primeira câmera fotográfica. Logo depois, abriu um curso de fotografia na minha cidade, em Votorantim. Naquela época fiz um juramento que eu jamais iria parar de fotografar não importasse o que acontecesse comigo. Então, eu tomei isso como um estilo de vida, uma missão.

Como você se especializou?

Eu conheci uma ONG chamada “Grupo Imagem”, que fica em Sorocaba. Eles ofereciam uma oficina voltada aos jovens, de forma gratuita. Foi nesse momento que eu comecei a fotografar as ruas, as pessoas e as histórias. Eu via que a fotografia era uma boa ferramenta pra iniciar uma reflexão para sensibilizar as pessoas. Assim que conclui o curso na ONG, recebi a oportunidade de dar aulas no lugar do meu professor. Foi aí que eu me tornei a professora voluntaria de fotografia de mais de 250 jovens.

Como é ser a primeira mulher civil a fotografar o cotidiano dos quarteis?

Pensei que se ninguém conhecia a trajetória do Combatente do Exército Brasileiro, eu deveria fazer um projeto fotográfico que retratasse isso. Eu escrevi isso em um papel e no ano seguinte, fui me apresentar pessoalmente ao comandante da Escola Preparatória de Cadetes do Exercito (EsPCEx), que fica em Campinas. Eu cheguei lá com o rascunho de ideias e tudo começou a fluir. Hoje, esse projeto já tem quatro anos, e eu tenho a previsão de terminar no próximo. A sensação que eu tenho é que por mais que não tenha sido fácil, foi trabalho necessário, já que existe um problema de diálogo entre as partes, seja do meio civil quanto no militar. É uma coisa que pode impactar de um certo modo as pessoas, fazendo com que elas pensem e reflitam de ambas as partes.

primeira mulher civil

Como surgiu essa oportunidade?

No primeiro ano da PUC-Campinas, participei de um estágio de correspondente de assuntos militares que era oferecido pelo Exército e voltado aos jovens universitários. Então, eu fiz esse curso de uma semana, conheci os princípios das Forças Armadas e do Exercito, e aprendi como poderia atuar em áreas de conflito. Eu vi um nicho, percebi que não era uma coisa transparente, que as pessoas não sabiam muito bem sobre o que se tratava. Então, pensei nesse projeto de forma voluntária e fui tocando sozinha, já que é um trabalho autoral.

primeira mulher civil
Foto: Paula Mariane

Qual a sua fotografia favorita e por quê?

Imogen Cunningham fala que a melhor fotografia é aquela que eu vou tirar amanha. E eu concordo muito com esse fotografo. Mas, uma das minhas favoritas é uma que eu fiz quando eu cobri a intervenção federal do Rio de Janeiro sob a ótica da Polícia do Exercito em uma patrulha próximo à região do Complexo do Alemão. Gostei muito de ter feito, principalmente porque minha presença era importante já que era a única pessoa da imprensa ali.

Qual é o próximo sonho que você quer realizar?

Bom, quando eu comecei o projeto, eu não sabia o alcance que ele poderia ter. Eu sei que tem um caminho a ser feito, mas eu quero muito que esse trabalho seja visto e que faça as pessoas pensarem, saírem um pouco da caixinha. Meu sonho de vida é trabalhar em algum lugar que eu faça diferença, que nem sempre será o mais confortável, mas que eu vá agregar, que precisa de gente para fazer um tipo de diferença. Para fotografar, relatar o momento e estar pronta pra isso.