Por Mariana Arruda e Raíssa Zogbi

Para celebrar o Dia das Mães, comemorado neste domingo, dia 10 de maio, a redação da Campinas Cafe trouxe histórias singulares de mães e suas famílias que estão na linha de frente na luta contra o novo coronavírus na cidade de Campinas. Abaixo você confere relatos reais que trazem significados diferentes para o amor: afinal, existe laço mais forte do que amor de mãe? Entenda!

Exército do amor

“Mães batalhadoras que se dedicam todos os dias e merecem aplausos”, é assim que Maria Renata Bucholi, gestora da Unidade Respiratória da Covid-19 no Hospital e Maternidade Santa Tereza em Campinas, descreve parte da sua equipe. A gestora é uma das mães guerreiras que se deslocam todos os dias até o hospital para salvar pessoas que estão lutando contra o novo coronavírus.

Segundo Renata, a parte mais difícil é deixar a família em casa, ainda mais na incerteza de um retorno. “O meu coração acelera todas as manhãs quando acordo. Porém, a confiança em Deus me traz segurança. Além disso, entrar no hospital e poder prestar assistência com humanização aos pacientes é muito gratificante, visto que não sabemos se eles voltarão para casa para rever seus familiares”, explica. Neste Dia das Mães, a gestora poderá aproveitar o dia com o filho. “No domingo estarei com meu filho. Porém, estarei longe da minha mãe que mantém o distanciamento social”, conta.

Outras formas de dizer “eu te amo”

Danielle Louvet Guazzelli, de 26 anos, é residente no Hospital das Clínicas de Unicamp. Para ela, as preocupações trazidas pelo coronavírus chegaram antes dele se tornar pandemia. Isso porque seus pais foram visitar a irmã gêmea, Stephanie Louvet Guazzelli, que estava morando na China a estudo, bem no período de aumento de casos. Todos conseguiram retornar para o Brasil e Danielle, preocupada em entrar em contato com os familiares que estiveram nas áreas de risco, resolveu sair de casa para evitar se contaminar e, como consequência, expor os pacientes. O período de quarentena deles passou e ela voltou a morar com a família. Porém, não por muito tempo. Logo depois, o vírus chegou ao Brasil e ela, que atua na linha de frente, saiu de casa de casa, mas dessa vez, para proteger os pais. Ela reforça que o apoio da mãe tem sido fundamental durante esse momento.

“Em cinco meses, metade fiquei fora de casa. Mesmo diante de toda a dificuldade desde o início do ano, que não tem sido fácil por estar longe da família e ver de perto os impactos dessa pandemia, minha mãe sempre fez de tudo para tornar tudo isso o menos pior possível. Mesmo de longe, ela se fez perto e esteve ao meu lado.  Minhas menores necessidades, ela faz questão de realizar. No dia que eu realmente surtei por conta da pandemia, que tive uma forte crise emocional pelo sofrimento e nervoso que vemos e vivemos no hospital, foi no ombro dela que fui chorar. Fiquei na calçada de casa, há 10 metros de distância, e ela me ouviu por uma hora enquanto eu chorava. Eu não poderia ter escolhido mãe melhor. Ela é meu ponto de referência e apoio para tudo que eu faço na vida! Virginie Louvet Guazzelli, eu te amo”.

Nasce uma mãe durante pandemia

Os nascimentos não esperam a pandemia passar. Junto deles, nascem novas mamães, que tanto se programaram para o momento único do parto e acabaram por passar os útimos dias de gestação isoladas, assim como os desafiadores primeiros dias de vida dos bebês. Foi o caso da chef e professora de gastronomia, Tuany Zorateli, que entrou no nono mês de gestação no dia 15 de março, quando a quarentena começou.

“Num primeiro momento, eu estava tranquila, porque eu nao tinha ideia da proporção que tudo isso ia tomar. Na semana seguinte, comecei a ficar extremamente ansiosa, principalmente porque se ouvia falar que o pico seria em 11 de abril, que seria a data que eu completaria minhas 40 semanas e se tudo desse certo eu teria um parto normal bem nesse período. Fiquei muito ansiosa e insegura. Liguei pra minha médica e ela me alertou que a partir da 37ª semana poderiamos pensar em parto, porque o bebê já estaria com o pulmão formado. No dia 22 de março, cheguei na 37ª semana e fiquei ainda mais tensa. Sabemos que nossa cabeça interfere muito no nosso corpo, então, na quarta-feira daquela semana, dia 25 entrei, em uma neura e resolvi me informar. Liguei na Maternidade de Campinas e me informaram que por conta da situação, o protocolo havia mudado e o acompanhante só poderia entrar na hora do parto e teria que ir embora em seguida, ou seja, a gestante e o bebe ficarão no quarto sozinhos nesses dias de recuperação. Entrei em colapso e me perguntava: “Eu sonhei tanto com esse momento, com tudo isso, como ficaria sozinha cuidando de um bebê, não tendo experiência alguma?”. No mesmo dia, falei com a minha médica e agendamos o parto para sábado no Vera Cruz, que estava podendo ter o acompanhante na época. Mas, na quinta feira a tarde, comecei a perceber que o bebê não se mexia. Minha médica me indicou que comesse um brigadeiro bem forte e deitasse de lado. Se o bebê não mexesse 6 vezes em 20 minutos, eu deveria ir para o hospital. Fiz o que ela pediu. Ele chutou 5 vezes, bem fraquinho. Mas, tentei manter a calma, porque o medo de ir ao hospital era maior naquele momento. Fui dormir e na madrugada acordei e disse ao meu marido, Henrique, que estava me sentido esquisita, que não estava normal e então fomos para o hospital. O médico fez todos os procedimentos e constatou que ele estava em sofrimento, que eu provavelmente estava em trabalho de parto e não sabia. Os batimentos cardíacos dele tinham quedas. Então, sugegiram fazer o parto logo na sexta de manhã.

O que posso dizer em ter um filho nessa quarentena, é que existe um lado positivo e seu lado triste. Graças a Deus, eu já estava me planejando parar de trabalhar nesse período para cuidar dele e então casou com esse momento. No quesito estar isolado e não receber amigos e pessoas em casa, também tem seu lado positivo. Esse é um período muito complicado, ainda estamos nos adaptando a uma nova rotina, e ele não recebeu as vacinas, é muito frágil e a mulher fica com os hormônios alterados. Ter visita nesse momento é complicado, porque às vezes não sabemos falar “não” e a visita também não sabe o limite. Nesse ponto foi positivo, porque as pessoas compreendem melhor o momento. Por outro lado, as pessoas próximas também não podem estar conosco. Minha mãe e minha sogra estão comigo desde o início me ajudando nesse cuidado diário. Minha mãe esteve comigo no hospital, revezou com meu marido, tomando todo o cuidado, me ajudou nas primeiras trocas, banhos, me dando apoio para ter independência. Toda ajuda de mãe é muito bem-vinda. Nem tenho palavras para tudo que ela tem me ajudado. Minha avó e meu avô, por serem do grupo de risco, não puderam vê-lo em quase 40 dias. A ela que esteve ao lado da minha mãe quando eu nasci,  assim como a minha está ao meu, não conheceu o Conrado ainda.  Toda minha admiração, amor e respeito incondicional por elas”.

Ciência e maternidade

O jaleco e o microscópio fazem parte do seu dia a dia. Porém, quem vê a mulher que trabalha incansavelmente para obter diagnósticos através de pesquisas biológicas pode esquecer que, em casa, seus filhos a aguardam.  Patricia Marchezi Rosa trabalha como microbiologista no Laboratório do Hospital e Maternidade Santa Tereza e é mãe de dois filhos. Durante a pandemia, ela se desloca diariamente até o Hospital para cumprir com o seu propósito: salvar vidas. “Está sendo muito difícil ter que sair todos os dias pra trabalhar com receio de me contaminar ou ser via de transmissão da covid-19 para a família. Tenho certeza que dias melhores virão, enquanto isso, sigo firme e forte na luta para cumprir minha missão como profissional e MÃE!”, explica.

Patricia Marchezi Rosa
Patricia Marchezi Rosa e filhos

Segundo ela, neste momento tão difícil, a melhor hora do dia é ao chegar em casa e receber carinho dos filhos. “Por isso, minha rotina de higiene, que sempre foi rigorosa por trabalhar no setor de microbiologia, passou a ter cuidados redobrados, que começam no hospital: com atenção ao uso dos EPI’s, troca da roupa e sapatos utilizados pra trabalhar, retirada dos sapatos antes de entrar em casa, além de colocar o banho como prioridade, para só depois ficar com eles”, conta.

Sobre a celebração do Dia das Mães, Patricia conta com muita satisfação que estará perto dos pequenos. “Terei o privilégio de estar com meus filhos neste tão diferente Dia das Mães. Este ano, que tem sido de tantos desafios para toda a humanidade, principalmente para os profissionais de saúde”, finaliza.

União durante pandemia

Neste domingo, a Encarregada de Mercearia do Supermercado Taquaral, Alessandra Arruda da Silva, mãe de Erenilson José da Silva Junior, de 23 anos, reservou um tempinho com sua família, mesmo com plantão marcado. Desde o início dos casos de coronavírus, ela trabalha na linha de frente e sente-se orgulhosa por poder ajudar outras famílias. “Para mim, ajudar o próximo é algo necessário e fico feliz com cada família que atendo. Amo o que eu faço! Neste domingo, estarei de plantão durante o período da tarde no Dia das Mães, mas vou almoçar com o meu filho. Ele é meu amor incondicional. Além de filho, é meu companheiro, amigo, só tenho que agradecer pelo filho dedicado, atencioso e maravilhoso que Deus me deu”, conta.

Por entrar em contato diretamente com muitas pessoas todos os dias, Alessandra lembra de como sua rotina mudou para proteger sua família e deixa um alerta. “Desde o início da pandemia, os cuidados aumentaram, pois meu esposo é do grupo de risco. Então, sempre que volto para casa, o cuidado é redobrado para que nada aconteça com eles. Para tudo dar certo, devemos também seguir todas as recomendações necessárias. Se cada um fizer sua parte, logo vamos poder estar nos reunindo com os nossos familiares e amigos”, finaliza.

Recepção e cuidado

Na área da saúde, os funcionários que recebem os pacientes no hospital também estão na linha de frente do novo coronavírus. A recepcionista do Pronto-Socorro do Hospital e Maternidade Santa Tereza, Kelly Vieira, não terá a oportunidade de comemorar o Dia das Mães com a sua filha Alice, de quatro anos. “A preocupação e o medo são gigantescos, mas tenho fé que vamos passar por tudo isso e iremos sair desta mais forte”, explica.

Segundo Kelly, o cuidado com a filha é sempre redobrado. “Sempre tive esse cuidado, mesmo antes da covid-19. Lembro que também tivemos outras doenças que me geraram preocupação, como: H1N1 e o sarampo que voltou este ano”, conta.

A recepcionista explica que os seus cuidados de higiene é uma forma de demonstrar amor à linha. “A minha filha só vai para casa depois de eu ter tomado banho. Esses dias, por algum motivo que não me recordo, ela já estava lá quando cheguei. Quando me viu, queria me abraçar. Quando disse que não podia, ela chorou, foi triste”, lembra Kelly.

Mamãe na espera

Daniella McCormick é uma das mães que está à espera do nascimento do seu bebê durante a pandemia.“Eu nunca planejei nem imaginei que minha jornada de mãe seria assim, mas a vida nos surpreende e a gente percebe que é mais capaz do que imagina. Minha historia não é convencional”, explica. Isso porque a veterinária deu início a sua família do outro lado do mundo: “conheci o meu marido enquanto fazia mestrado na Coreia do Sul e tive o meu primeiro filho por lá, longe da minha família”, conta. Hoje, a campineira vive com a sua família no Tennessee, nos Estados Unidos, e está na sua segunda gestação durante a pandemia.

“Dessa vez me senti confiante e optei por aquilo que já estava pedindo o meu coração: ter um parto em casa. Foram poucas consultas médicas, acompanhamento com doula e parteira, mas tudo muito diferente da primeira gravidez”. “E, então, veio o Covid-19 e tudo mudou”, lembra Daniella.

Chá de bebê cancelado, últimas consultas medicas canceladas, fotos canceladas, e quartinho vazio. “É claro que uma parte em mim se sentiu roubada, mas ao mesmo tempo me senti muito grata. Fizemos um chá de bebê online e, dessa vez, puderam participar pessoas queridas de todos os cantos do mundo. Nada esta sendo como planejamos, mas nada nos está faltando, e não vemos a hora da chegada do segundo bebê”, afirma a veterinária.  Ela ainda finaliza que a pandemia é uma ótima oportunidade: “sei que esse momento é muito assustador, mas, ás vezes, fazer as coisas fora do convencional acaba nos surpreendendo e a gente se permite ter experiências únicas”, finaliza.