Por Karina Fusco e Raíssa Zogbi

Foi-se o tempo em que o cenário da aprendizagem limitava-se a uma sala de aula com um professor na frente passando conteúdo para dezenas de alunos sentados em carteiras. Ficou para trás também a máxima de que, depois da faculdade, um lato sensu e um MBA, aliados ao domínio de dois idiomas, seriam suficientes para manter os profissionais competitivos no mercado de trabalho.

Na nova realidade, há mudanças desde a educação infantil e na vida adulta os cursos à distância ganham cada vez mais adeptos. Além disso, a figura do estudante ganha longevidade, afinal, com a velocidade dos avanços tecnológicos e as mudanças que eles impõem a todos os setores da economia, não dá mais para deixar de buscar novos conhecimentos.

As primeiras páginas nesse livro da aprendizagem contínua são escritas na infância. A professora da Pós-Graduação em Educação da PUC-Campinas, Jussara Tortella, explica que, no passado, a educação infantil tinha uma característica mais assistencialista. Acreditava-se que bastava a criança ter um local para ser bem cuidada. Agora, valoriza-se o fato de que ela é produtora de cultura. “A criança é vista como um sujeito histórico, que tem direitos, brinca, cria, imagina e é questionadora. A partir disso é que se constrói o conhecimento. Além disso, a educação infantil é obrigatória”, diz.

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Jussara Tortella, da PUC-Campinas: “a criança precisa de espaço e estímulo”

Entre os muros da escola, os pequenos jamais devem ficar passivos. É preciso haver movimento. “Não dá mais para manter uma criança parada na carteira. Ela precisa ter espaço e estímulo para brincar, interagir com o ambiente, aprender, se expressar e se conhecer. Já o acesso a diferentes tecnologias é bem-vindo, pois faz parte da vida atual, mas deve ser inserido de forma equilibrada”, pontua.

Entre os valores, que são importantes para a sociedade e o mercado podem ser trabalhados continuamente. “A sala de aula é um espaço privilegiado, mas não há necessidade de haver aulas específicas sobre os valores, que são construídos a partir das relações que as crianças estabelecem com os adultos e com as outras crianças”, diz.

No cotidiano, os pequenos podem ser estimulados a trabalhar em grupo, a argumentar, a se colocar no lugar do outro e a respeitar as diferenças. “Não acredito que a escola de Educação Infantil deva preparar as crianças para o mercado. Ela tem é que propiciar um campo de experiências que dê a oportunidade de compreender a realidade que as cerca”, defende.

Expectativas dos jovens

Na segunda fase do Ensino Fundamental e principalmente no Ensino Médio, quando a chave para a escolha da profissão é definitivamente acionada, as habilidades valorizadas pelo mercado de trabalho começam a ganhar mais peso na escola. “Quanto mais cedo elas forem inseridas no currículo, mais seguro o estudante fica de si para fazer as escolhas no Ensino Médio”, afirma o diretor pedagógico da Oficina do Estudante, Antunes Rafael.

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Antunes Rafael, da Oficina do Estudante: “a escola precisa reconhecer seu papel de vanguarda”

Para ele, juntamente ao desafio de acompanhar as mudanças e oferecer uma proposta diferenciada que corresponda às expectativas dos adolescentes, as escolas também precisam trabalhar as competências socioemocionais dos alunos. “A escola pode trabalhar de forma equilibrada o lado socioemocional, que é fundamental para quando o jovem chegar ao mercado de trabalho, e as ferramentas tecnológicas, que podem ser usadas como aliadas no processo de aprendizagem”, defende.

Diante de uma realidade em que, conforme lembra Rafael, “os vestibulares mais tradicionais do país ainda são conteudistas e o trabalho feito no Ensino Médio precisa preparar os futuros vestibulandos para ingressar nas universidades”, apresentar o conteúdo de uma maneira mais atrativa para os jovens de hoje também é um grande desafio.

Esse é um dos escopos de escolas internacionais que estão chegando ao Brasil com propostas diferenciadas que valorizam a aprendizagem por projetos e intersecção contínua entre as disciplinas – cobrando por isso valores muito acima dos praticados no mercado nacional.

Mas, surge aí um novo questionamento: se os estudantes que frequentam esses novos modelos de escola seguirem para a graduação no Brasil, se depararão com vestibulares tradicionais. “Os processos seletivos das universidades também precisariam mudar, senão vamos viver uma dicotomia, já que o Ensino Médio caminha em uma direção e o vestibular ainda está em outra”, diz Rafael.

Sobre o impacto das escolas internacionais no mercado brasileiro, o diretor da Oficina do Estudante acredita que deverá ser algo positivo pelo fato de elas trazerem uma visão de futuro mais palpável. “Estar preso a um tradicionalismo de ensino significa entrar na contramão das expectativas dos alunos e da sociedade. Estamos vivendo um processo de transição em que a escola como instituição precisa se recriar e reconhecer que seu papel é de vanguarda”.

Novo Futuro

Educação continuada é a palavra-chave que guia o cenário atual da educação. Na verdade, ela sempre esteve presente por trás do clichê “nunca pare de estudar”, falado por pais, avós e professores. Mas, a forma como se busca conhecimento já passou por mudanças nos últimos anos e caminha para uma proposta cada vez mais dinâmica e direta. “Os conhecimentos vão se atualizar e se defasar cada vez mais rápido. A tendência é que os cursos fiquem menores, o que chamamos de nano degree, ou seja, pequenos títulos, pequenas pílulas de conhecimento”, explica o professor de Planejamento de Carreira na Inova Business School, Marcelo Veras.

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Marcelo Veras, da Inova Business School: “os conhecimentos vão se defasar cada vez mais rápido”

De acordo com ele, a educação continuada abrange não só cursos, mas também eventos, congressos, viagens, trabalhos sociais. Isso porque o sucesso profissional vai além de conhecimentos técnicos. “O Brasil ainda está em um modelo educacional que prioriza o desenvolvimento só de conhecimento e de competências técnicas, e ignora as competências comportamentais”, explica. Para ele, as escolas ainda trabalham com um método em que os alunos precisam usar muito tempo e energia para estudar e melhorar os pontos fracos, ao invés de investir em habilidades potenciais. “A gente quer que todo mundo seja médio em tudo para passar no vestibular”, completa. É uma deficiência estrutural que vai além das escolas.

Veras avalia que o investimento em arte, esporte, cultura, teatro e música ainda é defasado no Brasil, o que também é reflexo da falta de valorização dos professores, que hoje atuam em péssimas condições de trabalho e ainda com a baixa remuneração. “É preciso valorizar a profissão e atrair talentos para a área. Apenas 2,5% dos jovens querem ser professores hoje. Há uma década era 7% e já era baixo”, afirma.

Com novo formato de vestibular e profissionais valorizados, as escolas, consequentemente, incluirão na grade o desenvolvimento de novas habilidades. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, entre as dez competências do futuro, a maioria diz respeito à equilíbrio emocional e trabalho em equipe. Marcelo afirma que uma das competências comportamentais que mais serão exigidas no futuro é a empatia. “É preciso incluir dinâmicas na sala de aula como fazer os alunos passarem uma hora de olhos vendados, para se colocarem no lugar de um deficiente visual. Dessa forma, os alunos são colocados para conviver com a diversidade”, exemplifica.

As mudanças são estruturais e lentas, mas, essenciais para acompanhar as novas tendências. “Algumas alterações têm que começar de cima para baixo, outras ao contrário ou no meio. Não tem só um fio para ser puxado para desatar o nó”, finaliza Veras.

10 Competências do Futuro

1) Adaptabilidade Proativa

2) Resiliência Evolutiva

3) Liderança por Propósitos

4) Cultura Digital

5) Cocriação e Prototipagem Rápida

6) Empatia multifocal

7) Solução da Complexidade

8) Fazer menos e melhor

9) Agilidade não apressada

10) Recapacitação (Reskilling)

Fonte: Fórum Econômico Mundial