Por Karina Fusco

Não é de hoje que o estado da Flórida atrai turistas de todo o mundo por seus famosos parques de diversão e os endereços de compras. Sua localização geográfica também favorece o turismo médico, que vive um excelente momento. De olho nesse mercado, o pediatra brasileiro Wladimir Lorentz, de 49 anos, que vive nos Estados Unidos há mais de 30 anos, criou o programa Ser Mamãe em Miami, que oferece serviço completo de obstetrícia, reprodução assistida e pediatria para famílias estrangeiras que desejam ter seus filhos no país que tem a maior economia do mundo.

Ele esteve em Campinas no dia 14 de outubro, proferindo palestra para os casais interessados em dar aos filhos a oportunidade de nascer com a cidadania americana e conversou com a Campinas Cafe sobre os detalhes de um serviço que já foi abraçado por mais de 500 famílias brasileiras, incluindo a atriz Karina Bacchi.


Entrevista – Wladimir Lorentz

De quanto foi o aumento da procura dos brasileiros pelo parto nos Estados Unidos nos últimos anos? O boom aconteceu com a epidemia de zika no Brasil?

Desde que o programa começou, em 2015, atendemos 900 famílias, sendo a metade de brasileiros. Houve, sim, uma grande procura na época do zika vírus, mas o interesse pelos serviços médicos americanos sempre teve grande demanda, não só por latinos, mas por pessoas do mundo todo, inclusive os russos. Afinal, os Estados Unidos são um país referência em atendimento e qualidade em serviços médicos e hospitalares.

Qual é o perfil do casal que faz esta escolha?

Geralmente, a mãe tem idade acima dos 30 anos. O casal tem estabilidade financeira e, via de regra, são profissionais bem-sucedidos ou empresários. Antes, as gestantes nos procuravam próximo à época do parto, mas notamos que há agora uma demanda significativa de mulheres que ainda não engravidaram, mas estão se preparando para ter um filho em outro país.

Quais são as regiões do Brasil de onde há maior procura pelo serviço?

São Paulo e a região Sudeste como um todo sempre foram bem receptivas ao programa. Mas desde o ano passado, as regiões Nordeste e Norte vêm dando uma abertura significativa. Destaca-se a cidade de Manaus, pela proximidade com Miami.

Quais são as principais vantagens de viver a experiência da maternidade em Miami?

Tivemos o cuidado em elaborar um programa de atendimento à gestante e a sua família que surpreendesse positivamente desde o primeiro contato. Quando o casal decide ir a Miami, participa de um encontro com outras famílias que já estão na cidade e com profissionais. Também visita a clínica de obstetrícia para conhecer um entre os quatros obstetras e faz um tour no Hospital Mercy. Todos os celulares da equipe ficam com os pacientes, que podem acionar a qualquer momento. O pediatra pode ir à casa da família para realizar a consulta, o que não acontece no Brasil. Toda etapa é cuidadosamente pensada para sempre proporcionar a melhor experiência aos casais, até porque são momentos que serão lembrados para o resto da vida.

Em que período da gestação as mulheres são aconselhadas a se estabelecer em Miami?

Isso varia conforme o quadro da gestação, mas recomendamos que a viagem aconteça até a 32ª semana.

É dado algum suporte para a viagem aérea?

Não, isso fica por conta das famílias.  O que fazemos é indicar profissionais para ajudar essas pessoas a se estabelecerem na cidade, como uma personal shopper, que ajuda a compor o enxoval, sempre respeitando o orçamento disponível, e também corretores de imóveis, advogados e despachantes para auxiliarem na documentação.

“Tivemos o cuidado em elaborar um programa de atendimento à gestante e a sua família que surpreendesse positivamente desde o primeiro contato” (Foto: divulgação)

Qual é a média de custo do pré-natal e do parto em Miami?

Os custos variam entre 11 a 14 mil dólares, já incluindo as partes de pediatria, obstetrícia, pré-natal, estrutura hospitalar e pós-parto. Quem ainda não estiver grávida, pode optar pelo seguro saúde internacional, que ajuda a custear parte das despesas.

Como os hospitais americanos recebem as brasileiras? Há serviços especiais para estrangeiras?

Atualmente, temos apenas uma instituição que compõe o programa, que é o Mercy Hospital, que conta com uma ala de maternidade para atender pacientes internacionais. Fica em Coconut Grove, em uma região estratégica na cidade. A vista dos quartos para a Baia Biscayne é um espetáculo à parte.

A escolha da mulher por parto normal é mais valorizada do que a cesárea? Há custos diferenciados entre os diferentes tipos de partos?

Toda e qualquer decisão em relação a forma de parto é amplamente discutida e avaliada entre paciente e médico. Muitas gestantes procuram os nossos serviços porque querem parto normal. O custo da cesárea tem pouca diferença em relação ao parto normal. Caso a mãe opte pelo normal, mas no momento do parto seja necessário fazer uma cesárea, não há problema algum. A família pode pagar a diferença depois.

Se houver necessidade de a mãe ou o bebê irem para a UTI, isso impacta em custos adicionais às famílias?

Infelizmente, sim. A diária de uma UTI nos Estados Unidos custa em torno de 4 mil dólares, por isso, sempre orientamos as famílias que reservem um valor para suprir, caso haja a necessidade, mas é raro que isso aconteça em uma gestação saudável. De qualquer forma, a equipe dispõe de um acompanhamento constante e, além disso, ajudamos os pais a negociar a conta do hospital que, em algumas vezes, pode ser até financiada.

Como o bebê que nasce nos Estados Unidos ganha o direito de cidadania americana, esse é um artifício para os pais que querem imigrar para o país?

Não encaramos isso como “artifício”. Primeiramente, porque as famílias que procuram o programa são compostas por pessoas com situação financeira favorável e sustentável, ou são gestores bem-sucedidos e por isso não têm interesse em deixar o país. Elas querem que os seus filhos tenham mais opções no futuro.

Por fim, porque as apresentações do programa no Brasil não têm o local divulgado?

Como se trata de algo que implica na decisão muito particular do pai e da mãe, tomamos esse cuidado para preservar o casal e também para a própria segurança dos participantes.