Por Karina Fusco

Cores vivas, formas diversas, criações inusitadas e reproduções perfeitas de imagens que por si só falam mais do que mil palavras. Clichês à parte, o trabalho de artistas gráficos de Campinas há alguns anos já ultrapassa as fronteiras do Brasil, mas, o mais relevante é que frequentemente eles presenteiam a cidade com seu talento.

Um desses habilidosos profissionais é Rogério Pedro, de 43 anos, que, recebeu a reportagem da Campinas Cafe em seu ateliê. Da sua infância e juventude no Jardim Aurélia, ele traz a determinação de fazer da arte um meio de vida. Nos cursos de desenho e pintura que frequentava foi desenvolvendo seu dom até que, em 1994, teve o primeiro contato com o grafite na capital paulista. “Eu ficava observando os muros e túneis da cidade e queria descobrir como fazia. Nem tinta específica havia naquela época”, diz.

Artistas gráficos de Campinas
Rogério Pedro

Após a graduação em Artes Plásticas, pela PUC-Campinas, foi trabalhar em agências de publicidade, até que teve a sua. Mas em 2011, quis dar mais lugar à arte em sua vida e passou a conciliar o trabalho na publicidade com os pincéis e tintas. Bastou o primeiro trabalho comercial que fez, um mural em uma ótica no Cambuí, para que seu talento conquistasse um número cada vez maior de admiradores.

Começaram a surgir oportunidades em toda a região até que, em 2015, ele direcionou sua vida profissional definitivamente para a arte. Em seguida foi chamado para fazer a fachada de um café no bairro da Consolação, em São Paulo, que deu maior visibilidade às cores e formas desconstruídas que caracterizam seu trabalho. Então, novos frutos de seu esforço e sua convicção vieram. “Fiz um projeto em Salvador para os 30 anos de carreira da Margareth Menezes, fiz pintura ao vivo durante a gravação de um DVD da Sandra de Sá, no Rio de Janeiro e capas de discos para outros artistas”, revela, mostrando os registros desses momentos especiais de sua carreira.

A força das redes sociais

Postando o resultado final de suas obras no Instagram, Rogério foi ganhando o mundo. As encomendas começaram a chegar também de outros países. “Já mandei telas para Colômbia, Estados Unidos e Portugal e fiz a capa de uma revista francesa”, conta. Em 2016, foi chamado para pintar três grandes murais no Design District, em Miami. “O desenho das divas virou folheto, banner e outdoor. Foi muito gratificante ver esse desdobramento”, diz.

Tendo como referência grandes pintores brasileiros como Cândido Portinari, Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral e admirador de trabalhos de Ziraldo, Speto e Gosia Herba, o campineiro achou seu caminho com uma atuação múltipla, se dedicando a fazer telas, murais e arte digital. Recentemente, apostou também em produtos licenciados e já faz planos para um futuro próximo. “Adoro desafios, como pintar ônibus, fazer escultura. Também quero fazer uma empena, que é a parede lateral de prédio sem aberturas, estou com um livro a caminho sobre os meus trabalhos dos últimos cinco anos e pretendo fazer uma exposição no exterior”, revela.

Com a agenda lotada, na qual ainda encaixa as viagens para pintar os murais, Rogério está disposto a aproveitar da melhor forma possível esse bom momento profissional. “Me desdobro para dar conta de tudo, pois a arte visual é meu negócio e minha paixão”, define.

Artistas gráficos de Campinas
Arte de Rogério Pedro

Arte como meio de vida

Outro grande representante dessa geração de artistas gráficos de Campinas é Gustavo Nénão, de 35 anos. Apesar de ter muito clientes no Brasil, ele passa a maior parte do tempo no exterior. Inclusive esta entrevista foi concedida enquanto ele estava em Londres.

Sempre ligado à arte de rua e skatista, ele, que cresceu no jardim Santa Genebra, revela que precisou ser autodidata para aprender sobre o grafite. A fórmula para aperfeiçoar seu trabalho foi praticar intensamente até conseguir elevar o nível dos resultados. “As pessoas falavam que meu trabalho era bom, mas que arte não daria futuro. Porém, eu nunca acreditei que não fosse dar certo”, diz.

Artistas gráficos de Campinas
Gustavo Nénão

Desde quando começou a pintar nas ruas, em 1994, até hoje, muitas latas de tintas foram gastas e surpreendentes capítulos de sua história foram escritos. “Me lembro de um dia estar pintando no fundo do quintal, juntando dinheiro para comprar algumas latas e quando percebi já estava sendo chamado para expor em Nova York, ir para Barcelona, Londres e Paris. A vontade de pintar e me expressar nunca saiu de mim. O que mudou foram as responsabilidades envolvidas, pois pessoas passaram a dividir seus sonhos comigo”, relata.

Formado em Publicidade e Propaganda pela PUC-Campinas, ele avalia que a graduação o ajudou a profissionalizar o seu negócio. Em 2003 surgiram as primeiras propostas para pintar no exterior e agora, 15 anos depois, já contabiliza trabalhos em 23 países, para isso já tendo fixado moradia em Miami, Barcelona e Londres.

Artistas gráficos de Campinas
Arte de Gustavo Nénão

Airton Sena, Elvis Presley, Salvador Dalí e B.B. King são alguns nomes que ele já retratou em muros, painéis, portões e fachadas. Mas de todas as suas obras, a que ele considera mais relevante é a que desenvolveu em 2014 para a então primeira dama dos Estados Unidos, Michelle Obama. “O grafite fica na entrada da Galeria ArtBeam, em Manhattan”, explica.

 Agenda cheia

Sempre que surgem trabalhos em terras tupiniquins, Nénão desembarca por aqui. “No ano passado, rodei por 10 países e fiquei menos de um mês no Brasil. Em 2018, estive aí durante um mês e meio (na ocasião também pintou um dos pilares de sustentação do Viaduto Laurão, em Campinas), e em novembro volto para entregar duas obras”, diz.

Nos meses em que fica fora, encaixa na sua agenda algumas atividades que considera essenciais. “Me reciclo, visito muitos museus, galerias, busco tendências, circulo muito no circuito gastronômico, já que muitos dos meus clientes são do ramo, e desenvolvo minhas obras para galerias, exposições no meu ateliê, painéis e também projetos para interiores pedidos por arquitetos e designers”.

Artistas gráficos de Campinas
Arte de Gustavo Nénão

Não falta espaço para ações sociais. Ele revela que recentemente participou de uma exposição na Embaixada Brasileira em Londres, que arrecadou R$ 80 mil com a venda de duas obras e reverteu o valor integralmente para o projeto Fraternidade Sem Fronteiras, onde apadrinhou crianças vítimas de HIV, na África.

Sobre o futuro das artes gráficas no Brasil, ele acredita que o bom momento se deve ao período de grande reformulação e busca de novos valores. “Particularmente, gosto de projetos independentes onde os artistas têm espaço e liberdade para fazerem realmente o que amam, usarem o pantone e a fonte que tanto gostam. Fora do Brasil ainda se dita muita tendência”, conclui.