Por Mariana Arruda e Raíssa Zogbi
“Nunca pensei de onde vai vir o dinheiro, porque se a gente pensa como é que vai sustentar, você não dá o passo”. Com a mesma garra, determinação e o amor pela profissão e pelo próximo, a presidente e uma das fundadoras do Boldrini, Dra. Silvia Brandalise, fala sobre o objetivo da inauguração do novo Centro de Pesquisa, que ocorreu no último dia 27. O novo prédio de cinco mil quilômetros quadrados, situado no bairro Cidade Universitária, em Campinas, pretende fomentar o avanço científico e tecnológico para o combate ao câncer infantil.
Os resultados apontam para a importância desse novo embrião. Há quatro décadas, quando o Boldrini foi inaugurado, em 1978, o índice de mortalidade por câncer infantil era de 52%. Nos dez anos seguintes, esse número baixou para 37% e alcançou a taxa de 21% após 2008.
De acordo com a presidente, a ideia é buscar novas drogas para aprimorar os tratamentos. “Queremos descobrir novos princípios ativos, além de adaptar terapias já utilizadas em adultos para fazer teste clínico em crianças”, explica Silvia.
Sob o título de maior centro de pesquisa sobre o câncer infantil da América Latina, esse novo projeto do Boldrini pretende criar um ambiente de inovação articulado com universidades e centros de pesquisas da região. “Precisamos fixar os jovens pesquisadores aqui no nosso país, além de compartilhar a estrutura existente com outras instituições”, conta a médica.
Importância
Segundo Silvia, o Boldrini foi a única instituição da América Latina convidada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para integrar o Consórcio Internacional sobre Meio Ambiente e Câncer de Criança. Agora, com o centro, a ideia é utilizar a expertise profissional para direcionar as pesquisas para todos os tipos da doença, monitorar os medicamentos utilizados para os tratamentos e, além disso, pesquisar sobre os fatores externos que estão relacionados à patologia. “É um absurdo quando a gente vê um feto lá na barriga da mãe, que já tem um tumor cerebral. Uma das tarefas é descobrir de onde vem o câncer da criança”, explica a médica.
“Nenhuma criança deve morrer de câncer”
– Dra. Silvia Brandalise
Investimento
O Centro de Pesquisa Boldrini foi uma das instituições beneficiadas pela deliberação da multa do caso Shell-Basf. No total foram R$ 42 milhões direcionados para a construção do maior centro de pesquisa de câncer infantil da América Latina. Além dessa verba, algumas instituições também contribuíram, como o Instituto Ronald McDonald.
De acordo com o Procurador Geral do Trabalho, Ronaldo Fleury, a construção do centro de pesquisa foi a forma encontrada para reverter os danos causados pelas empresas. “Nós buscamos fazer a reversão a favor da pesquisa e do tratamento de câncer, uma opção feita pelo Ministério, já que as pessoas morreram de câncer”, explica.
Em 2013, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) homologou o acordo depois de investigações que apontaram a negligência das empresas na proteção de centenas de trabalhadores em uma fábrica de agrotóxicos no município de Paulínia-SP. Segundo Fleury, o caso Shell-Basf recolheu ao todo R$ 330 milhões, que foram destinados à saúde.
Recursos Financeiros
O Boldrini atende 80% dos pacientes via SUS e 20% por meio de convênios privados. Os atendimentos do SUS geram 20% da receita, enquanto os convênios, 30% e os 50% restantes são oriundos de doações de pessoas físicas ou jurídicas.
9 formas de atuação do Centro:
- Controle de qualidade: permitirá testar, de forma independente e imparcial, novos produtos introduzidos no mercado quanto à segurança e eficácia.
- Bioterismo: instalações para manter camundongos imunodeficientes e/ou variantes para serem usados como modelos de doenças genéticas ou câncer.
- Diagnóstico molecular do câncer: realização de diagnóstico molecular do câncer, com aplicação de economia de escala, consequente redução dos custos e aumento da acessibilidade aos exames moleculares por parte de pequenos hospitais.
- Produção de Novas Drogas Contra o Câncer: realização de testes pré-clínicos in vitro e in vivo em animais de experimentação, antes de as qualificar para os estudos clínicos.
- Plataforma GMP de desenvolvimento de terapias gênicas e celulares: laboratórios para o desenvolvimento das metodologias necessárias à produção de vetores de transferência gênica e capacidade de implementação dos protocolos experimentais de terapia gênica.
- Espaço alternativo para pesquisa e desenvolvimento (P&D) industrial: destinado a companhias já estabelecidas, mas que não disponham de instalações para esta finalidade e que desejam desenvolver projetos de pesquisa.
- Espaço start-up: ambiente dedicado à incubação de ideias inovadoras que tenham potencial, com foco no coaching de jovens pesquisadores nas fases embrionárias.
- Espaço acadêmico para formação em pesquisa: dedicado à interação formativa científica e networking num ambiente criativo habitado por cerca de 150 pesquisadores, professores universitários e pós-graduandos.
- Espaço para realização de eventos científicos. dois auditórios com capacidade para 120 e 40 pessoas para a realização de conferências, workshops e congressos.