Não há nada melhor do que viajar. Mas o caminho até o destino pode não ser dos mais agradáveis, principalmente quando a distância é longa. E não é apenas uma questão de conforto. Viagens demoradas, seja de carro, ônibus ou avião, podem ter impactos até mesmo na nossa saúde. Por isso, quem vai viajar deve adotar alguns cuidados para garantir que chegará bem ao destino. Confira abaixo as dicas de um time de especialistas para realizar uma viagem livre de complicações:
Movimente-se:
Mesmo em locais de difícil circulação, como carros, ônibus e aviões, movimentar-se durante a viagem é indispensável. “Em viagens longas, as pernas ficam para baixo e paradas na mesma posição por muito tempo. Sem contração muscular da panturrilha, o sangue não circula como deveria e acaba migrando para os tecidos ao redor, ocasionando inchaço”, explica a cirurgiã vascular Dra. Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), que alerta que, em casos extremos, esse inchaço pode causar coágulos sanguíneos, trombose ou até mesmo embolia pulmonar, principalmente em pessoas que já possuem predisposição ao problema. Por isso, é importante evitar permanecer muito tempo na mesma posição. “No avião, procure caminhar no corredor ou movimentar os membros inferiores no seu próprio lugar. Já nas viagens de carro, faça paradas regulares para esticar as pernas”, aconselha a médica.
Não segure a urina:
Aproveite o momento de se movimentar para também ir ao banheiro, pois segurar a urina é prejudicial à saúde. “Essa prática quando feita por longos períodos de tempo, como durante uma viagem, pode favorecer o surgimento de infecções urinárias”, explica a médica nefrologista Dra. Caroline Reigada, especialista em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira. “Além disso, se você estiver de carro, há o risco de a bexiga cheia romper em caso de colisão ou acidente, o que geralmente não ocorre quando ela está vazia.”
Atente-se à alimentação:
Programe a sua alimentação antes, durante e depois da viagem. “Aeroportos e rodoviárias geralmente não têm muitas opções de alimentos saudáveis, então prepare-se e leve frutas, lanches naturais, barrinhas e outros snacks leves e saudáveis”, recomenda a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). Durante a viagem, evite alimentos muito salgados ou doces, que desidratam o corpo, e refeições pesadas de difícil digestão. “Motoristas e pessoas que querem se manter despertas também devem evitar massas, pães e farináceos refinados de alto índice glicêmico, que podem provocar sonolência após a ingestão”, aconselha a médica nutróloga.
Mesmo ao chegar ao destino, o cuidado alimentar deve continuar. “Quando mudamos de localização sempre há risco de interação com microbiotas que vivem naquele novo ambiente, levando a reações físicas como a diarreia do viajante, reação comum após o consumo de alimentos próprios do local de destino. Mas o problema pode ser prevenido evitando alimentos muito elaborados de composição e procedência desconhecidas e dando preferência para o consumo de alimentos industrializados de composição conhecida, além de apostar na hidratação adequada com água mineral. Também é possível tratar preventivamente a microbiota com suplementos orientados pelo médico para enfrentar a mudança geográfica sem grandes consequências”, afirma a médica nutróloga. Atentar-se à procedência dos alimentos, na verdade, é um cuidado que deve ser tomado em qualquer ponto da viagem. “Alimentos de composição e procedência desconhecida, com sinais de má higiene ou de preparo e armazenamento inadequados, representam um risco à saúde, podendo levar a uma intoxicação alimentação. Então, atente-se a essa questão.”
Maneire no consumo de álcool:
O consumo excessivo de bebidas alcoólicas não é recomendado em viagens. “Bebidas alcoólicas em excesso devem ser evitadas por vários motivos, incluindo desidratação do corpo, intoxicação hepática e sintomas neurológicos, todos indesejáveis em períodos de viagens”, diz Dra. Marcella Garcez. O álcool ainda pode ser um fator de risco para dores articulares. “O álcool pode causar o aumento do Ácido Úrico no sangue, condição esta chamada de hiperuricemia, que leva a inflamação das articulações e quando não tratada pode ocasionar lesões da cartilagem articular que evoluem para a artrose”, explica o Dr. Marcos Cortelazo, ortopedista especialista em joelho e traumatologia esportiva, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT).
O cuidado deve ser redobrado em viagens de avião. “No avião os efeitos do álcool são mais exacerbados devido à menor pressão atmosférica com consequente redução da oxigenação da aeronave”, acrescenta a Dra. Caroline Reigada. Ingerir bebidas alcoólicas também pode ocasionar uma piora dos sintomas de cinetose. “A cinetose é uma condição caracterizada pelo enjoo e desconforto que acontece a bordo de carros, navios, ônibus e aviões por questões neurológicas relacionadas ao equilíbrio, que depende da coordenação do cérebro a partir das informações recebidas do labirinto, da visão e do sistema proprioceptivo, formado pelos músculos, ligamentos e pele. Para lidar com a cinetose, além de não consumir álcool, é importante evitar substâncias estimulantes em excesso e não fazer refeições pesadas ou ficar muito tempo em jejum”, aconselha a Dra. Marcella.
Cuidado com medicamentos sedativos:
O uso de remédios que causam sonolência é muito comum em viagens, seja para controlar o enjoo ou simplesmente para não ver a hora passar. Mas é melhor evitar. “Qualquer medicação que causa sonolência reduz o poder de julgamento e, logo, aumenta a possibilidade de confusão mental. Os medicamentos hipnóticos prejudicam as funções motoras e cognitivas, aumentando o risco de acidentes e quedas, especialmente no caso de idosos e principalmente em ambientes que podem levar ao desequilíbrio”, alerta a Dra. Caroline Reigada. “No avião, os riscos do uso de remédios hipnóticos vão desde simples desconfortos até queda de pressão arterial e sensação de desmaio, além da confusão mental.”
Cuide da pele:
O clima seco do avião pode favorecer o ressecamento da pele. “Além da falta de umidade do ambiente, o próprio ar bombeado para dentro da aeronave causa ressecamento, pois chega a temperaturas bem baixas. Com isso, ocorre uma evaporação mais rápida da água presente na pele, levando à desidratação”, explica a Dra. Paola Pomerantzeff, dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Por isso, o item de beleza mais importante em viagens como essa, sem dúvidas, é o creme hidratante. “Para o rosto, utilize um hidratante leve em sérum e não se esqueça também da área dos olhos, que podem ficar mais inchados durante a viagem. Lip balms ou até mesmo a boa e velha vaselina são excelentes pedidas para os lábios. Invista também na água termal, que hidrata, refresca e acalma a pele. Borrife durante a viagem e deixe que o produto seque completamente. Na hora de dormir, aproveite as horas de descanso e use uma máscara hidratante”, explica a Dra. Cintia Guedes, dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
Cuide também dos cabelos:
Os fios também precisam de proteção durante viagens de avião. “Os cabelos tendem a ficar mais ressecados durante o voo e a raiz mais oleosa. Logo, para evitar o ressecamento, aplique leave-ins ou óleos nos fios antes do embarque e até mesmo durante a viagem, se for mais longa. Já melhorar a oleosidade da raiz, você pode usar shampoos a seco para chegar ao seu destino com um ‘fresh’. Mas lembre-se que esses shampoos devem ser usados ocasionalmente e não substituem as lavagens”, afirma a Dra. Cintia Guedes, que ainda recomenda prender os cabelos em coques ou tranças frouxas para evitar que fiquem cheios de nós ao fim da viagem.
Proteja-se do sol:
Não é só nas viagens de carro que devemos lembrar da fotoproteção – que deve ser feita mesmo no inverno. “As janelas do avião não bloqueiam os raios UVA, que provocam o envelhecimento precoce da pele e o câncer de pele. Além disso, devido à altitude mais elevada, esses raios UVA são ainda mais prejudiciais que o normal”, alerta a Dra. Paola Pomerantzeff. “O protetor solar deve ter fator de proteção solar (FPS) de, no mínimo, 30. Além disso, procure produtos próprios para o seu tipo de pele. As opções são inúmeras. Existem produtos específicos para a pele oleosa, seca, sensível, com cor e sem cor e por aí vai. O dermatologista é o profissional capacitado para avaliar suas necessidades e seu tipo de pele para indicar o melhor protetor solar para você”, recomenda a Dra. Cintia Guedes. “O protetor solar deve ser reaplicado no máximo a cada 3 horas”, afirma a Dra. Cintia.
Foco no relógio:
Se o destino está em outro fuso horário, cuidado com o jet lag. “O jet lag é uma condição caracterizada por distúrbios gastrointestinais, prejuízos no desempenho cognitivo e físico, sonolência diurna excessiva e insônia durante a noite”, diz a Dra. Caroline Reigada. Mas algumas estratégias podem ajudar a reduzir seus efeitos, como ajustar o relógio para o horário do destino assim que começar a viagem para já adaptar o momento das refeições e do sono para o novo fuso horário. “Dependendo da quantidade de fusos horários atravessados, é natural não termos vontade de comer na hora do almoço, por exemplo, mas é importante realizar um esforço, pois é uma pista temporal que ajuda a sinalizar e sincronizar o núcleo supraquiasmático, responsável por regular os ciclos circadianos”, destaca a médica que recomenda beber bastante água e consumir pratos leves e ricos em proteínas, o que vai ajudar a minimizar os efeitos do jet lag ao desembarcar. “Além disso, exponha-se a luz do sol enquanto estiver de dia”, finaliza a médica.