Os pesquisadores estão cada vez mais próximos de criar óvulos humanos viáveis a partir de tecidos não reprodutivos, como células da pele e do sangue, o que beneficiará principalmente mulheres com baixa reserva ovariana ou óvulos de baixa qualidade, que poderão ter filhos biológicos. “Enquanto homens são capazes de produzir grandes quantidades de espermatozoides ao longo de toda a vida, as mulheres possuem um número finito de óvulos, que é pré-definido no nascimento e decai com a idade. E problemas relacionados aos óvulos, seja na reserva, na qualidade ou na produção, estão entre as principais causas da infertilidade feminina”, diz o Dr. Fernando Prado, especialista em Reprodução Humana, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e diretor clínico da Neo Vita. A boa notícia é que, agora, pesquisados de Harvard revelaram, em entrevista na rádio americana GBH, que estão próximos de desenvolver óvulos humanos em laboratório a partir de tecidos não reprodutivos, como células da pele e do sangue.
Segundo o Dr. Fernando Prado, essa pode ser uma descoberta revolucionária que abrirá um novo mundo de possibilidades reprodutivas para pessoas que não conseguem produzir óvulos por conta própria. “Com isso, temos uma nova fonte de óvulos para a realização de procedimentos como a Fertilização In Vitro (FIV), não sendo necessário recorrer, por exemplo, aos bancos de doação dessas células, opção mais comum atualmente para casos em que os óvulos não são produzidos naturalmente pela mulher ou não são viáveis”, diz o médico.
O processo de criação desses óvulos consiste em pegar células cutâneas, sanguíneas ou de outros tecidos e reprogramá-las em células-tronco que podem se desenvolver em óvulos em um meio de cultura. “Através da ativação de certos fatores de transcrição, genes que controlam a expressão de outros genes, as células-tronco se transformam em células que servem como ‘blocos de construção’ do ovário. Essas estruturas, por sua vez, são combinadas a células germinativas, que são precursoras dos óvulos e também podem ser geradas em laboratório”, afirma o médico. Essa união faz com que as células germinativas evoluam até estágios mais avançados de desenvolvimento, apesar de ainda não progredirem até a fase de óvulo, o que pode ser conquistado no futuro com os sistemas de cultura mais avançados que os pesquisadores estão desenvolvendo.
E, uma vez bem-sucedida, a técnica não beneficiará apenas mulheres com baixa reserva ovariana ou qualidade reduzida dos óvulos. “Esses óvulos gerados em laboratório podem, por exemplo, estimular o avanço dos estudos de condições como infertilidade e câncer de ovário, além de contribuírem para o desenvolvimento de medicações que não causem impacto na capacidade reprodutiva da mulher”, afirma o médico. E até mesmo homens poderão usufruir dessa tecnologia inovadora, por exemplo, no caso de casais homoafetivos do sexo masculino que desejam ter filhos biológicos. “Estudos anteriores realizados em camundongos já demonstraram ser possível retirar o cromossomo Y de uma célula masculina e duplicar o cromossomo X, o que possibilitaria o desenvolvimento de um óvulo”, destaca o especialista.
No entanto, os pesquisadores de Harvard alertam que, apesar de a estimativa para a produção de óvulos humanos em laboratório ser de um ou dois anos, pode levar ainda um bom tempo para que a técnica seja amplamente utilizada, visto que, por questões de segurança, ainda serão necessárias pesquisas em outras espécies, principalmente em primatas, e estudos a longo prazo para verificar como as crianças concebidas a partir desses óvulos se desenvolverão.
Até lá, a mulher com baixa reserva ovariana ou qualidade reduzida dos óvulos, conta com outras opções para conquistar o sonho de conceber um filho. Por exemplo, para mulheres que possuem óvulos viáveis, mas têm disfunções ovulatórias, uma alternativa é a estimulação ovariana. “A estimulação ovariana tem como objetivo incitar os ovários a liberarem um maior número de óvulos durante um único ciclo menstrual. No ciclo menstrual normal, múltiplos folículos, que são as estruturas que contêm os óvulos, são estimulados a crescer, mas apenas um amadurece o suficiente para liberar o óvulo em seu interior, processo que é controlado pelo organismo através de hormônios. Então, na estimulação ovariana administramos esses hormônios em uma maior dose para fazer com que vários folículos consigam amadurecer e liberar seus óvulos”, afirma o especialista.
Já mulheres que não possuem óvulos viáveis, a opção é a já citada ovodoação, que consiste, basicamente, na doação do óvulo de uma mulher mais jovem para que seja fecundado em laboratório e implantado no útero de outra mulher. “A doação é completamente anônima. E é importante ressaltar que, ao contrário do que muitas mulheres pensam, a gravidez por ovodoação não torna a receptora menos mãe, afinal, é ela que carregará o feto durante toda a gravidez e garantirá que a criança cresça feliz e saudável”, finaliza o Dr. Fernando Prado.
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