Por Mariana Arruda
“Aquilo que vem de dentro mostra a nossa humanidade, que nos coloca nessa condição de sermos nem anjos e nem demônios”. É com essa reflexão que o filósofo e professor Mario Sérgio Cortella inicia a apresentação do seu novo livro, escrito em coparticipação com Claudia Dias Batista de Souza, a Monja Coen.
Os pensadores contemporâneos estiveram no Teatro Iguatemi Campinas no dia 14 de maio para um debate sobre os caminhos e impasses nos juízos constantes entre o bem e o mal no lançamento da obra “Nem anjos nem demônios: a humana escolha entre virtudes e vícios”. Nas 208 páginas do livro, os autores discorrem sobre o mesmo assunto da palestra para chegar a conclusões sobre a dualidade do ser. Em entrevista exclusiva para a revista Campinas Cafe, Cortella e Monja Coen compartilharam seus conhecimentos inspiradores para ajudar a sociedade a entender os questionamentos presentes na vida.
A vida é uma escolha
Com a premissa de que os seres humanos não são bons ou ruins, Monja Coen atribui ao indivíduo a responsabilidade pelas consequências de seus atos e, por isso, chama a atenção para a necessidade do estado de consciência para que o indivíduo faça as melhores escolhas no decorrer da vida. Um exemplo disso são as respostas por questões de desavenças. “Se algo acontecer, eu posso trabalhar isso para que eu dê uma resposta adequada”, explica. Ou seja, é importante que as pessoas escolham a forma como querem se expressar no mundo diferente de algo imediato decidido através do calor das emoções. “Temos diferentes maneiras de pensar, falar e ver o mundo”, diz a Monja.
O poder da culpa
Neste cenário, Cortella reflete sobre as escolhas, que conduzem a situações e refletem responsabilidade e culpa. “No conceito judaico-cristão, nós temos a culpa original. Culpado de quê? De um pecado original. Você não cometeu, mas o seu ancestral sim”, explica. Segundo o professor, isso está atrelado à escolha de Adão e Eva, que desobedeceram as ordens de Deus. “Primeira coisa que o texto traz é a culpa e a vergonha. Eles percebem que estão nus. Ao tomar consciência de seus corpos, eles notam que são mortais. E isso servirá como algo que levará ao sofrimento. Ou seja, a vida é escolha”, finaliza Cortella.
Nem anjos e nem demônios
De acordo com o professor e filósofo, há situações que não existem alternativas. “No filme ‘A escolha de Sofia’, uma mãe precisa escolher qual de seus filhos irá morrer no contexto Nazista. Claro que o filme é irônico, porque não há escolha naquela situação”, comenta. Porém, segundo Cortella, o Nazismo é um exemplo da dicotomia do ser, de nem anjos e nem demônios. “Como o povo alemão, que gerou filosofia, arte, ciência e religião de altíssimo nível, desde Beethoven e Martinho Lutero a Manuel Kant e Hegel, gerou o horror Nazista? Nem anjos e nem demônios. Isso significa que precisamos ficar o tempo todo em estado de alerta”, completa.
A importância da empatia
Segundo Cortella, tanto o mundo interior quanto o exterior são imensos e não completamente cognoscíveis no sentindo da filosofia. Dessa forma, o ser humano precisa lidar com os dois para que exista empatia verdadeira, na mesma proporção em que trabalha as suas particularidades. “Nós temos que fazer o caminho duplo sempre, a questão é que eu dentro desse mundo sou alguém que vive com outros. Ser humano é ser junto. Por isso, a empatia é um sinal de inteligência”. Ou seja, aquele que desenvolve a capacidade de acolhimento dos outros seres humanos, é alguém que entende melhor a si mesmo, vive melhor nesse mundo externo e esclarece aquilo que está dentro de si.
Como ser empático
De acordo com Monja Coen, tudo começa quando há inteligência espiritual, que é importante para a reflexão sobre o ser. “Nos provoca a pensar, e perguntamos: o que sou eu? Por que estou aqui? O que estamos fazendo aqui?”. Esses pensamentos, segundo ela, são importantes para que exista relação ao outro semelhante, ou seja, para que os indivíduos tenham empatia.
Porém, a monja esclarece que existem diferentes meios para conseguir ter a virtude. “Eu posso imitar alguém, tentar sem como essa pessoa. E nesse processo, posso me transformar. Se a pessoa se transformar no processo, ela vai realmente cuidar de todos”, conta. De acordo com ela, é natural do ser humano fazer algo para adquirir vantagens pessoais. “É a mesma coisa com o meio ambiente. Por que cuidamos dele? Porque percebemos que fazemos parte do ecossistema”, explica.
Fotos: Paulo Fleury