No caminho da reinvenção das atividades programáticas, o Sesc Campinas traz nesta quinta-feira (23, às 19h) a 1ª edição do projeto “Canção Quebrada”, uma iniciativa que traz a proposta de composição de uma obra musical inédita, evidenciando uma existência imaginada sem a pandemia. Através do canal youtube.com/sesccampinas, o público acompanha o resultado da canção “Toró”, obra realizada a seis mãos, por Andreia Preta (voz), Edu Guimarães (sanfona e arranjos) e Paulo Freire (voz e viola). Todo o registro e captação foi feito separadamente na casa dos artistas, utilizando equipamentos não profissionais, como celulares e câmeras simples, e produzido pela equipe de audiovisual do Sesc Campinas.

Sendo os três importantes nomes da música campineira, e já conhecidos de outros palcos, esta é a primeira vez em que o trio se une para a produção de um trabalho coletivo e inédito. Paulo Freire revela o sentimento de como foi a recepção do convite para este projeto. “Foi a melhor possível. Muito estimulante! Nós nos conhecíamos, mas eu nunca tinha trabalhado com a Andreia, nem com o Edu. Conseguimos nos ajustar muito bem, cada um da sua maneira, sempre palpitando e complementando a ideia um do outro”, diz Paulo.

Canção Quebrada
Paulo Freire
Crédito: Adriano Rosa

Sobre a experiência e a metodologia de cada um trabalhar de sua casa, Edu Guimarães declara que foi um grande desafio. “Empatia, a importância do tema e parceria com o Sesc nos motivou a nos acharmos neste lugar complexo. Dada toda a complexidade em que nos encontramos, a cabeça e os sentimentos confusos em meio a tanto luto devido à pandemia, não é tarefa simples ter essa concatenação de ideias de longe, por meio de mensagens de texto, áudios, print… Assim como Paulo, não vejo vantagem, a não ser, a chance de realização do que somente era possível presencialmente, o que é o ideal quando pensamos em Arte! Eu diria que funciona”.

Canção Quebrada
Edu Guimarães
Crédito: Ana Arnt

Trazendo um pouco do cenário de gravação com equipamentos caseiros e em condições não ideais, Andreia Preta revela que estava em um processo de começar a se organizar tecnologicamente, estudar e poder lidar melhor com tudo isso. “Para mim foi um pouco tenso, pois a pandemia me pegou de surpresa. Estou na fase em que o computador, celular, e nuvem lotaram a memória e, isso trouxe algumas dificuldades. Mas graças ao Edu, conseguimos lidar bem”. Canção Quebrada

E ao final de tantos desafios, o resultado foi a canção “Toró”, em que parte da letra fala em “viajar um tempo pra dentro de casa”. Neste contexto, o trio compartilha o que tem sido essa viagem, tanto do ponto de vista da pandemia quanto da criação musical. “Acredito muito que o tempo pediu um tempo (outra canção minha), mas essa viagem pra dentro de casa, mais do que o lar físico, nos proporcionou a oportunidade de vivenciar um dia de cada vez, trazer um olhar pra si mesmo. Essa coisa de conversar com a alma, essa avaliação foi imprescindível pra não entrar em desespero diante da situação planetária. Pra mim, que havia acabado de me despedir da minha avò, que faleceu em fevereiro, foi o luto mais importante da vida. Ela era minha grande referência e inspiração e essa clausura veio a calhar. Precisamos da tecnologia, sim, mas esta situação nos trouxe um momento de perceber quão valiosa é a presença de pessoas, trocas, afetos, compaixão, enfim… Pra gente ter mais equilíbrio”, revela Andreia. Canção Quebrada

Canção Quebrada
Andréia Preta
Crédito: Erica Araium

Para Edu“essa viagem pra dentro de casa eu já pratico há muito tempo. Confesso que sempre tive um tanto de preguiça de encontros sociais, bares e afins. Claro, depois de trinta e tantos… Antes eu adorava. Rs! Mas neste caso específico é árduo, onde não é uma escolha, é uma necessidade, na qual acredito que esteja não só uma solução para amenizar a gravidade da doença, mas, trazer o ser humano para uma reflexão: Onde eu estava? Porque estava da forma que estava? Preciso de tanta coisa material mesmo? Enfim, pra mim, tem sido um reaprender a viver muito esplendoroso, e resolvendo várias questões internas nas quais eu sequer pensava. No começo da quarentena eu não tinha ânimo algum para mexer com música, a não ser ouvir muito, como sempre fiz, mas, não tinha gana em sentar ao instrumento e tocar. Depois fui voltando pela saudade. Mas confesso que a situação em que nos encontramos, me deixa um tanto de luto todos os dias. A música me traz força para suportar”. Canção Quebrada

E por fim, Paulo relata que “é o que estamos fazendo para superar este momento tão delicado. Ainda bem que estamos conseguindo ficar em casa e nos cuidar. E a partir dessa necessidade de “viajar para dentro de casa”, trabalhar em nossos projetos como também tentar pagar as contas… Do meu lado, estou conseguindo criar muito, me envolver com artistas de outras áreas, tanto para o dia que pudermos voltar a nos juntar ao público, como também para tentar desenvolver algo que funcione remotamente”.

Sobre os artistas

Andreia Preta

Cantora e compositora, natural de Campinas (SP), com 20 anos de carreira. Em 2016 gravou seu primeiro álbum autoral, “Doce de Salgar”, financiado pelo Fundo de Investimentos Culturais de Campinas (FICC). Atuou e cantou no musical “Amor, Mar e Fúria”, do Teatro de Tábuas. Fez trilha sonoras para teatro infantil e ministrou oficinas de canto e interpretação. Foi finalista do Festival da Canção Brasileira, do Sesi-SP e finalista do I Festival de Samba de Campinas, em 2018. Seu show mais recente, “Segredinho”, baseado em canções recolhidas por sua avó materna, que viveu até os 101 anos de vida, foi realizado na Virada Sustentável de Campinas 2019. Nascida em Campinas, na Rua Buarque de Macedo, morou por um tempo em Minas Gerais. Após alguns anos, regressou à Campinas. Nesse anseio de se reconectar com a cidade, Andreia buscou o conhecimento e redescobriu ainda mais riquezas culturais do município que já conhecia desde a infância, mas desta vez se aprofundou nos mais de 200 anos de história. Por mais que a cidade não tenha sido construída, politicamente, para ser turística, em suas pesquisas descobriu pequenas riquezas e uma delas foi uma cultura negra muito presente (inclusive sendo uma das últimas cidades a abolir a escravatura), além de recuperar algumas memórias da infância como a Folia de Reis em frente sua casa. Para Andreia, essa cultura campineira acontece, estruturalmente e geograficamente, na periferia. Essa busca trouxe o autoconhecimento; mostrou quais eram suas verdadeiras raízes; porque gostava da cidade de Campinas e o que a motivava a ficar por aqui. “A maior importância, como uma questão de cidadania, é reconhecer a cultura campineira”, revela Andreia. Canção Quebrada

Edu Guimarães

Músico, compositor, arranjador e professor. Iniciou seus estudos musicais em 1999 como autodidata, tocando em bandas de baile em sua cidade natal, Santo Antônio de Jesus/BA. Atualmente é professor do Conservatório Municipal de Socorro. Dividiu palco com grandes nomes da música brasileira: Déo Rian, Isaías do Bandolim, Rolando Boldrin, Amélia Rabello, Nailor Proveta, Toninho Carrasqueira, Wilson Moreira, Alegre Corrêa, Marcelo Onofri. Desde 2005, em Campinas/SP, faz parte dos grupos: Núcleo de Samba Cupinzeiro, Duo Edu Guimarães e Marcelo Onofri, Duo FoleRitmia, entre outros, com os quais tem se apresentado em festivais como 14° Festival de Música Instrumental da Bahia (Salvador), 12° Chorando Sem Parar (São Carlos), Choro da Casa 2016 (Ribeirão Preto), entre outros. Desde 2011, tem feito trabalhos com companhias cênicas de grande expressão: Lume Teatro (SP), Nosso Flamenco (SP), Família Burg (SP) e Grupo dos Dez (MG). Em 2012 participou da gravação faixa comemorativa aos 100 anos de Luiz Gonzaga com Rolando Boldrin. Em 2013 gravou o disco Déo Rian aos 70 juntamente com o Regional Imperial. Em 2014 participou como solista de dois concertos da Orquestra Sinfônica da Unicamp. Em 2016 realizou uma turnê internacional com o Núcleo de Samba Cupinzeiro nas cidades de Paris (FR) e em Portugal. De 2007 a 2017, participou de mais de 60 CDs.

Paulo Freire

Estudou violão com Henrique Pinto, em São Paulo, e Betho Davesaky, em Paris, onde obteve medalha no “Concours de Classes Supérieurs de Paris”.
Em 1977 foi morar no Norte de Minas Gerais, região do rio Urucuia. Aprendeu a tocar viola com Manoel de Oliveira e outros mestres da região. Aprofundou-se nos costumes e lendas do sertão. Tocou as violas e compôs músicas para o seriado “Grande Sertão: Veredas”, da TV Globo. Morou em Paris de 1982 a 1985. Além de estudar violão clássico, atuou em grupos de Música Popular Brasileira em vários países da Europa e na Argélia. Realizou uma turnê de viola-solo pela Europa, apresentando-se em festivais de World Music da Bélgica e Holanda – 1995. Gravou seu 1º disco solo de Viola: “Rio Abaixo”, independente, em 1995 (Prêmio SHARP de Revelação Instrumental). Escreveu o livro “Eu Nasci Naquela Serra”. Realizou duas turnês pelos EUA com o grupo Anima, em 2000 e 2001. Em 2008 lançou o livro infantil “O Céu das Crianças” – Companhia das Letrinhas. É um dos curadores do Festival Voa Viola, evento nacional que conta com premiações, shows pelo Brasil e Rede Social – 2010/2012. Em 2016 lançou o CD solo, instrumental de viola, “Pórva”. Com este trabalho, Paulo Freire está na lista do Melhores Instrumentistas de 2016, do site “Embrulhador”. Lança o livro “Chão – uma aventura violeira”, pela editora e-galaxia – 2019.

Serviço:
Dia: 23 de julho, quinta-feira
Horário: às 19h
Local: youtube.com/sesccampinas
Projeto: Canção Quebrada
Apresentando: Andreia Preta, Edu Guimarães e Paulo Freire.
Obra Inédita: Canção “Toró”