Por Mariana Arruda

Ser o único guia brasileiro a escalar as sete mais altas montanhas do mundo, não foi o suficiente para Rodrigo Raineri. Agora, o alpinista natural de Ibitinga está na sua sexta expedição ao Monte Everest, e promete algo inédito: realizar um voo solo de parapente do topo até a base. Com 30 anos de experiência em rocha, gelo e alta montanha, Raineri aproveita a oportunidade para divulgar e incentivar a prática da escalada esportiva que passa a ser oficialmente considerada um esporte olímpico nos Jogos de Tóquio em 2020, além de celebrar seus 50 anos de vida durante a expedição. Confira a entrevista!

Você vai para a sexta escalada no Everest. Você se sente mais preparado?

Sim, me sinto mais preparado e experiente, por isso, a ansiedade diminui bastante. Mas ainda assim, o friozinho da barriga existe por conta da escalada da montanha, que nunca é a mesma, todos os anos muda e, assim, o roteiro é diferente. E também pela proposta deste ano que é descer voando de parapente, que é algo que eu nunca fiz e sei que é bem complicado. Temos que acertar o dia bom para decolar. Isso é um desafio!

Desta vez será a primeira vez que você irá voar de parapente no Everest. Como estão as expectativas?

A ideia é realmente descer a montanha voando. Até algum tempo atrás, eu não imaginava que eu iria voar a quase nove mil metros de altitude em um parapente, que é uma altitude de aviões. Estarei exposto, com vento no rosto e muito frio! Acredito que é viável e dá pra ser feito um voo com segurança, se não eu nem iria me propor a fazer. O ar rarefeito muda tudo, a fisiologia, a sustentação, a aerologia. É tudo completamente novo e isso causa bastante ansiedade.

parapente no Everest
Rodrigo Raineri, será o primeiro alpinista a realizar um voo solo de parapente no Everest

Qual a sensação de voar de parapente do cume de uma montanha?

Voar de parapente é uma sensação maravilhosa, muito bacana. Como na água a gente tem noção que estamos num fluido e aprendemos a nadar, se movimentar e começamos a curtir, no ar é a mesma coisa. Voar do cume de uma montanha é uma sensação incrível, difícil de explicar ou colocar em palavras, é só voando para entender.

Como é a sua preparação física e psicológica antes de enfrentar o desafio?

Minha preparação física é constante. Tenho um estilo de vida saudável e procuro sempre treinar para ter saúde. Quando chega perto de uma data de expedição eu intensifico meus treinos. Na parte mental é a mesma coisa, eu sempre procuro me colocar em situações difíceis e de estresse pra ir me conhecendo, para que eu tenha calma e serenidade para tomar boas decisões.

Como será celebrar os 50 anos de vida na expedição? O que isso significa pra você?

Vou comemorar os 50 anos no acampamento de base rodeado de amigos e pessoas bacanas que tem os mesmos gostos e objetivos. O acampamento fica numa montanha ao lado do Everest, o que é algo muito interessante por ser uma montanha que já me ensinou muito. Ao mesmo tempo, estarei longe da minha família, dos meus pais e do meu filho nesta data marcante. Tudo na vida são escolhas e trocas. Mas, será uma data ímpar e inesquecível.

A escalada esportiva passa a ser oficialmente considerada um esporte olímpico nos Jogos de Tóquio em 2020.  Qual o seu recado para aqueles que querem seguir a sua jornada no alpinismo?

Faça as coisas com paixão e empenho para buscar sempre o esforço correto para nos levar aos melhores resultados. Às vezes, a gente se esforça e não chega no resultado por não se tratar do esforço correto.

Qual a sensação de terminar uma expedição que desafia a morte?

É voltar para casa, pro meu filho, pros meus pais. Para mim o maior indicador de sucesso de uma expedição é voltar pra casa. Se a gente volta para casa, com certeza a expedição valeu a pena.

Quais são os itens essenciais para a expedição que você carrega na sua mochila?

São muitos itens! Qualquer coisa que falta pode te colocar numa situação difícil. Temos que fazer inúmeros check it lists. Um dos itens muito importantes é o spot, que é um equipamento via satélite que você tem um botão SOS para situações de emergência e através dele as pessoas conseguem acompanhar a sua geolocalização. Na fase de ataque ao cume, o cilindro de oxigênio é um item fundamental.

parapente no Everest

 

Até o fechamento desta edição, Rodrigo iniciou os primeiros voos-treino de parapente no Nepal. Confira a atualização da aventura em: campinascafe.com.br