Por Raíssa Zogbi

Se enfrentar uma dor vez ou outra já é incômodo, não é difícil imaginar que quem sofre com elas por três meses ou mais tem a rotina completamente alterada. De acordo com uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED), a cada dez pessoas no Brasil, quase quatro sofrem de alguma dor crônica, o que equivale a aproximadamente 37% da população. As principais vítimas são mulheres que vivem nas regiões Sul e Sudeste, com idade média de 41 anos. Mas, o que caracteriza esse quadro? O médico anestesiologista e intervencionista da dor, que atua na Clínica Singular de Campinas e no Hospital Albert Einstein, Fabrício Dias Assis, conversou com exclusividade com a Campinas Cafe para explicar como identificar esse tipo de dor e algumas formas de amenizá-las. Ele foi o primeiro médico de fora dos Estados Unidos, em oito anos, a receber o prêmio do Simpósio Internacional de Dor das Sociedades de Intervenção da Dor de Nova York e New Jersey, com o tema “A evolução das terapias avançadas de dor”. Acompanhe o bate-papo!



1) A dor crônica acomete 37% das pessoas no Brasil. Como ela é caracterizada? Quais as diferenças da dor comum?

A dor crônica é definida por durar além de três meses. A grande diferença entre a dor aguda, é que a crônica deixa de ter o caráter de proteção, de emitir sinal de alerta do corpo. Ou seja, a dor crônica não tem uma relação 100% linear com uma inflamação ou patologia. Com um estímulo de dor crônico e mais acentuado, o cérebro cria mecanismos que facilitam e amplificam essa dor. A aguda é um sinal de perigo que mostra que algo no corpo está errado, enquanto a crônica passa ser a própria doença do paciente.

Incidência de dor crônica na população por região do país e por idade (Infográfico: Editora Gracioli/Luiz Felipe Moraes)

2) Ela é necessariamente frequente e diária?

Não. Ela pode ter períodos de remissão. Uma mulher com dor de cabeça pré-menstrual que tem dores dois ou três dias por mês, é caracterizada como paciente com dor crônica.

3) Ela acomete mais homens ou mulheres?

Mulheres. Isso tem várias questões envolvidas, como genéticas e culturais. Apenas algumas patologias são mais frequentes em homens, como a dor de cabeça em salvas (aquela que que se repete ao longo de um período de tempo, de uma a três vezes por dia). Normalmente, dor de cabeça e dores pelo corpo são mais comuns em mulheres.

“Cerca de 30% ou 35% da população sofre com dor crônica e isso está relacionado aos nossos hábitos: mais estresse, pouca atividade física, alimentação ruim”

4) Quais os principais tipos de dores crônicas?

Dores na coluna e cabeça. Tanto a lombalgia, quanto a cefaleia atingem cerca de 20% a 30% da população. Além dessas, dores comuns são: as musculoesqueléticas, como artrose de quadril, de ombro, as tendinites, as neuropáticas para pacientes diabéticos, as relacionadas ao câncer, que é bastante relacionada ao estresse e ansiedade e a neuralgia pós-herpética.

5) Como funciona o tratamento para pacientes com dor crônica?

A dor crônica tem forte relação com o emocional. É uma via de mão dupla, porque o paciente que sente dor por muito tempo tende a ficar deprimido, ansioso, com maiores índices de estresse. E o contrário também é verdadeiro: o paciente mais estressado, ansioso e deprimido é mais suscetível a ter dor crônica. A avaliação desse deve ser multiprofissional. O tratamento começa com a análise da dor para que ele possa ser encaminhado para psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, dentistas, etc. Em termos de tratamento médico, ele se inicia com os analgésicos, os derivados da morfina, anti-inflamatórios, mas não são para longo prazo. Hoje, temos tratamentos mais efetivos, os intervencionistas da dor, que consiste em aplicação de técnicas através da punção de agulhas para bloquear o estímulo doloroso ou estimular o organismo a recuperar aquele problema com a medicina regenerativa. Outros métodos são: aplicação de anestésicos locais com anti-inflamatórios, radiofrequência com bloqueio de dor e neuromodulação, em que é colocada uma corrente elétrica no organismo para modular a dor através de chips e marca-passos nos nervos.

As dores mais recorrentes (Infográfico: Editora Gracioli/Luiz Felipe Moraes)

6) Quais as saídas possíveis para a redução dos casos de dor crônica?

As pesquisas mostram que a dor crônica tem uma prevalência muito grande no mundo, não só em países em desenvolvimento. Cerca de 30% ou 35% da população sofre com dor crônica e isso está relacionado aos nossos hábitos: mais estresse, pouca atividade física, alimentação ruim. Prevenir a dor crônica é basicamente cuidar da saúde. Ter uma atividade física diária ou pelo menos três vezes por semana, além de ter uma dieta balanceada e controlar o estresse.

Intensidade da dor atribuída pela população por região (Infográfico: Editora Gracioli/Luiz Felipe Moraes)